Quimilokos de Plantão!

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Doação de Sangue - Campanha de Natal

Olá pessoas queridas!

Hoje venho lhes fazer um pedido, juntando esforços com o pessoal da Rádio Interativa FM, num Campanha de doação de sangue para este Natal e período de Férias.

Nós sabemos que, muitas pessoas gostam de fazer algum tipo de doação nesta época do ano..bom, se VOCÊ é desse tipo de pessoa, e não sabe o que doar, então DOE VIDA!!
A Rádio Interativa estará fazendo um de seus programas no Hemocentro, para 'arrecadar' [se é que podemos dizer assim, rssss] bolsas de sangue!
Participe!
E, de qualquer forma, não espere pela rádio, ou qualquer órgão para fazer sua doação...vá até lá, simplesmente e doe!
Porém , se você é como eu, que não possui peso suficiente para doar [sniff..sniff..], ou realmente não pode doar sangue...então doe atenção, doe divulgação, doe carinho, doe amor! Mas doe alguma parte de você!
Você vai perceber o quanto se sentirá mais vivo!
Por hora é só pessoas!!
Um mol de abraços a todos!
xD

Ciência brasileira adere ao ‘padrão salame’ de produção e avaliação científica

OBS.: Artigo publicado pelo biólogo Fernando Reinach (colunista do Estadão e um dos pioneiros da biotecnologia no Brasil)
FOTO: Brian Harkin/NYT – Copyright
 
 
 
 
Darwin e a prática da ‘Salami Science’
Fernando Reinach / O Estado de S.Paulo
Em 1985, ouvi pela primeira vez no Laboratório de Biologia Molecular a expressão “Salami Science”. Um de nós estava com uma pilha de trabalhos científicos quando Max Perutz se aproximou. Um jovem disse que estava lendo trabalhos de um famoso cientista dos EUA. Perutz olhou a pilha e murmurou: “Salami Science, espero que não chegue aqui”. Mas a praga se espalhou pelo mundo e agora assola a comunidade científica brasileira.

“Salami Science” é a prática de fatiar uma única descoberta, como um salame, para publicá-la no maior número possível de artigos científicos. O cientista aumenta seu currículo e cria a impressão de que é muito produtivo. O leitor é forçado a juntar as fatias para entender o todo. As revistas ficam abarrotadas. E avaliar um cientista fica mais difícil. Apesar disso, a “Salami Science” se espalhou, induzido pela busca obsessiva de um método quantitativo capaz de avaliar a produção acadêmica.

No Laboratório de Biologia Molecular, nossos ídolos eram os cinco prêmios Nobel do prédio. Publicar muitos artigos indicava falta de rigor intelectual. Eles valorizavam a capacidade de criar uma maneira engenhosa para destrinchar um problema importante. Aprendíamos que o objetivo era desvendar os mistérios da natureza. Publicar um artigo era consequência de um trabalho financiado com dinheiro público, servia para comunicar a nova descoberta. O trabalho deveria ser simples, claro e didático. O exemplo a ser seguido eram as duas páginas em que Watson e Crick descreveram a estrutura do DNA. Você se tornaria um cientista de respeito se o esforço de uma vida pudesse ser resumido em uma frase: Ele descobriu… Os três pontinhos teriam de ser uma ou duas palavras: a estrutura do DNA (Watson e Crick), a estrutura das proteínas (Max Perutz), a teoria da Relatividade (Einstein). Sabíamos que poucos chegariam lá, mas o importante era ter certeza de que havíamos gasto a vida atrás de algo importante.

Hoje, nas melhores universidade do Brasil, a conversa entre pós-graduandos e cientistas é outra. A maioria está preocupada com quantos trabalhos publicou no último ano – e onde. Querem saber como serão classificados. “Fulano agora é pesquisador 1B no CNPq. Com 8 trabalhos em revistas de alto impacto no ano passado, não poderia ser diferente.” “O departamento de beltrano foi rebaixado para 4 pela Capes. Também, com poucas teses no ano passado e só duas publicações em revistas de baixo impacto…” Não que os olhos dessas pessoas não brilhem quando discutem suas pesquisas, mas o relato de como alguém emplacou um trabalho na Nature causa mais alvoroço que o de uma nova maneira de abordar um problema dito insolúvel.
Essa mudança de cultura ocorreu porque agora os cientistas e suas instituições são avaliados a partir de fórmulas matemáticas que levam em conta três ingredientes, combinados ao gosto do freguês: número de trabalhos publicados, quantas vezes esses trabalhos foram citados na literatura e qualidade das revistas (medida pela quantidade de citações a trabalhos publicados na revista). Você estranhou a ausência de palavras como qualidade, criatividade e originalidade? Se conversar com um burocrata da ciência, ele tentará te explicar como esses índices englobam de maneira objetiva conceitos tão subjetivos. E não adianta argumentar que Einstein, Crick e Perutz teriam sido excluídos por esses critérios. No fundo, essas pessoas acreditam que cientistas desse calibre não podem surgir no Brasil. O resultado é que em algumas pós-graduações da USP o credenciamento de orientadores depende unicamente do total de trabalhos publicados, em outras o pré-requisito para uma tese ser defendida é que um ou mais trabalhos tenham sido aceitos para publicação.
Não há dúvida de que métodos quantitativos são úteis para avaliar um cientista, mas usá-los de modo exclusivo, abdicando da capacidade subjetiva de identificar pessoas talentosas, criativas ou simplesmente geniais, é caminho seguro para excluir da carreira científica as poucas pessoas que realmente podem fazer descobertas importantes. Essa atitude isenta os responsáveis de tomar e defender decisões. É a covardia intelectual escondida por trás de algoritmos matemáticos.
Mas o que Darwin tem a ver com isso? Foi ele que mostrou que uma das características que facilitam a sobrevivência é a capacidade de se adaptar aos ambientes. E os cientistas são animais como qualquer outro ser humano. Se a regra exige aumentar o número de trabalhos publicados, vou praticar “Salami Science”. É necessário ser muito citado? Sem problema, minhas fatias de salame vão citar umas às outras e vou pedir a amigos que me citem. Em troca, garanto que vou citá-los. As revistas precisam de muitas citações? Basta pedir aos autores que citem artigos da própria revista. E, aos poucos, o objetivo da ciência deixa de ser entender a natureza e passa a ser publicar e ser citado. Se o trabalho é medíocre ou genial, pouco importa. Mas a ciência brasileira vai bem, o número de mestres aumenta, o de trabalhos cresce, assim como as citações. E a cada dia ficamos mais longe de ter cientistas que possam ser descritos em uma única frase: Ele descobriu…
……
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Artigo publicado em junho do ano passado na revistaTrends in Ecology and Evolution, em que os autores discutem a “obsessão da academia com quantidade”. Ele faz parte de um fórum de discussão lançada pela revista em março deste ano para debater o tema “Que tipo de ciência queremos?“, que inclui um comentário de biólogos brasileiros da Universidade Federal de Goiás.
Publicar muita porcaria ou publicar pouca coisa boa? Eis a questão. (não só na ciência, mas no jornalismo também)
Adademia’s obsession with quantity
Joern Fischer1, Euan G. Ritchie2 and Jan Hanspach1
1 Faculty of Sustainability, Leuphana University Lueneburg, Scharnhorststrasse 1, 21335 Lueneburg, Germany
2 Deakin University, School of Life and Environmental Sciences, 221 Burwood Hwy, Burwood, VIC 3125, Australia
We live in the era of rankings. Universities are being ranked, journals are being ranked, and researchers are being ranked. In this era of rankings, the value of researchers is measured in the number of their papers published, the citations they received, and the volume of grant income earned. Academia today is governed by one simple rule: more is better.
The idea to reward those who are productive seems fine at face value, but that idea has become ideology. Metrics of quantity once were the means to assess the performance of researchers, but now they have become an end in their own right. Ironically, once individuals actively pursue certain indicators of performance, those indicators are no longer useful as independent yardsticks of what they were once meant to measure.
Only a few years ago, a researcher publishing ten papers a year was considered highly productive. Now, leading researchers in ecology and evolution publish 20, 30, or, in some cases, over 40 papers a year, with a tendency for further increases. This volume of papers is attained via large laboratory groups and research consortia, which in turn require massive amounts of funding. Given that successful fundraising is a trusted performance indicator in its own right, funding keeps going to some of the biggest groups, keeping them big or growing them even further. However, a bigger group of researchers does not necessarily produce better science, just more of it. Thus, some research themes of solid (but not necessarily exceptional) quality can dominate the literature, just because they produce many papers. The type of work that ecologists produce is also different compared with just a decade or two ago: papers are shorter; reviews are increasingly quantitative not qualitative; the scope of papers has shifted from local to global; modeling papers are replacing field-based papers; and more papers focus on black-versus-white analyses because there is no journal (or mental) space for nuanced discussions. A recent high-profile example is the polarized debate on whether policy should encourage land sparing or land sharing.
The picture we paint is, of course, stylized. We acknowledge that there are exceptions among the most productive academics, the largest research groups, and the highest impact journals. However, despite exceptions, the overall trend is deeply concerning. Academics are increasingly busy with more papers, more grants, and more emails to keep the machinery going. The modern mantra of quantity is taking a heavy toll on two prerequisites for generating wisdom: creativity and reflection.
Creativity greatly benefits from an environment that is supportive, collaborative, and facilitates trialing new approaches, but suffers from working under excessive pressure. Similarly, reflection is vital for questioning assumptions and learning from experience. The gradual loss of creativity and reflection necessarily will affect our science. Many past landmark papers were full of good ideas, but were speculative and discursive. Would such papers be published today and, if they were, who would read them in depth? Is it possible to obtain and communicate deep insights via ‘twitteresque’ research sound bites?
Beyond the science itself, the quantity mantra is taking a toll on the quality of human interactions and relationships. Supervisors are increasingly too busy to discuss ideas at length with their research students. Academics work long hours, a supposed requirement for success, as if insight, motivation, and wisdom could not also arise from more balanced and family-friendly lives. The stressful environment of academia leads to many talented young people opting out of academia, and can lead to burnout in those who stay.
Along with political and spiritual leaders, academic leaders have a responsibility to help society move towards a better future, where we understand the world better, and use that understanding to live a ‘good life’. However, how can we do this if our professional rat race just mirrors the ills of society at large? Starting with our own university departments (but not stopping there), it is time to take stock of what we are doing. We must recreate spaces for reflection, personal relationships, and depth. More does not equal better.

Sobre fumaça tóxica em armazém catarinense - Quimicamente falando...

Força tarefa controla fumaça em armazém catarinense
 
Thais Leitão Repórter da Agência Brasil Brasília -
 
Divulgação - Thais Leitão - Da Agência Brasil - Brasília 
Foi controlada na manhã de hoje (27) a fumaça proveniente da queima de uma carga de nitrato de amônio armazenada em um galpão, em São Francisco do Sul (SC). Segundo a prefeitura municipal, a força tarefa integrada por Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e outros órgãos conseguiu alcançar o foco da reação química e inundar a área por volta das 6h30 de hoje. Durante a operação, foi usado aproximadamente 1,5 milhão de litros de água.
Neste momento, as equipes trabalham para fazer a limpeza do local. Representantes de órgãos ambientais, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), farão a avaliação das condições atmosféricas para definir quando a região será liberada para que moradores retornem às suas casas. Por enquanto, está mantida a área de isolamento em um raio de 1 quilômetro. De acordo com a prefeitura, 800 pessoas estão desalojadas e recebendo assistência em um abrigo disponibilizado pela Secretaria de Assistência Social. Está prevista para a manhã de hoje uma entrevista coletiva na sede da prefeitura de São Francisco do Sul para detalhar a operação.
O acidente ocorreu por volta das 22h de terça-feira (24), no galpão de uma fábrica de fertilizantes, no Bairro Paulas. A prefeitura decretou situação de emergência para acelerar as ações de assistência à população. Mais de 150 pessoas buscaram atendimento em unidades de saúde após terem inalado a fumaça, entre elas dois bombeiros militares que trabalhavam para controlar o foco da reação química. Um deles, David Marcelino, de 59 anos, teve intoxicação aguda e precisou ser transferido para o hospital regional de Joinville.
 
# Agora, quimicamente falando, alguns esclarecimentos, já que fui questionada em sala de aula:
 
O nitrato de amônio é um sal inorgânico, que quando puro é encontrado na cor branca e quando impuro nas colorações: cinza claro ou marrom, se estiver na forma de um cristal relativamente grande, aparenta-se com o sal grosso (NaCl). É inodoro, e, em solução aquosa, precipita-se misturando-se lentamente com a água, sua dissolução é bastante endotérmica.
Quando o nitrato de amônio é excitado com um fogareiro elétrico libera óxido nitroso (N2O), mais conhecido como gás hilariante ou gás do riso.
Pode ser produzido pela reação entre sulfato de amônio [(NH4)2SO4] e nitrato de cálcio [Ca(NO3)2], de acordo com a reação:
(NH4)2SO4 + Ca(NO3)2 → 2 NH4NO3+ CaSO4
Usado como fertilizantes, herbicidas , inseticidas, absorvente para óxidos de nitrogênio, fabricação de óxido nitroso, como oxidante em propelentes sólidos para foguetes, explosivos, etc.
O nitrato de amônio é obtido através da neutralização do ácido nítrico pela adição de hidróxido de amônio, ou ainda pode ser preparado com nitrato de sódio e hidróxido de amônio e ele também é usado na fabricação de Metanfetamina Cristal.
Perigos mais iminentes: Por ser oxidante, pode interagir com outros produtos. Quando contaminado com produtos orgânicos ou materiais oxidantes, aquecido, confinado, e ainda sob ação de agentes iniciadores, pode detonar. Risco de ignição ou detonação ao expor o produto ao calor e a materiais incompatíveis.
Perigos físicos e químicos: O Nitrato de Amônio é um forte oxidante. A contaminação pode promover a sua decomposição, tornando-o imprevisível e perigoso. Os contaminantes incluem matéria orgânica, Cloretos, Fluoretos e também alguns metais (exemplos: Cobre, Cromo, Zinco e outros).
Efeitos do produto em animais: A inalação pode causar irritação do trato respiratório, com tosse, dor de garganta e dificuldade respiratória. O contato com o produto pode causar irritação na pele e nos olhos. Exposto a altas temperaturas, devido à decomposição, pode liberar Amônia e gases Nitrosos tóxicos (NOx), capazes de provocar problemas respiratórios agudos.
Efeitos ambientais: É muito solúvel em água, podendo contaminar cursos d’água, tornando-os impróprios para uso em qualquer finalidade. O produto da combustão do Nitrato de amônia é o óxido nitroso, N2O. Este composto é um agravante do efeito estufa, sendo 273 vezes mais nocivo que o dióxido de carbono, CO2. (Xavier, A. Agronomia/UFSM, 2008)
Efeitos na saúde humana: O nitrato de amônio causa irritações nos olhos, na pele e no trato respiratório. A substância pode afetar o sangue, devido ao íon nitrato, causando uma doença chamada metahemoglobinemia, ou doença do bebê azul (IPCS ICHEM, 2011). Seus principais efeitos na saúde humana e dos ecossistemas são decorrentes dos compostos secundários que podem ser formados.

Fontes:
http://t.noticias.br.msn.com/brasil/for%c3%a7a-tarefa-controla-fuma%c3%a7a-em-armaz%c3%a9m-catarinense
http://pt.wikipedia.org/wiki/Nitrato_de_am%C3%B4nio

Ficamos entendidos?!
=D
Um mol de abraços a todos!!

 

7ºPRÊMIO PROFESSORES DO BRASIL



O Diário Oficial da União publicou a portaria que institui a 7ª edição do Prêmio Professores do Brasil. Educadores podem inscrever suas experiências pedagógicas até 30 de outubro, no site do concurso: http://premioprofessoresdobrasil.mec.gov.br/
O Prêmio Professores do Brasil é uma iniciativa do Ministério da Educação – MEC, promovido juntamente com as instituições parceiras. Tem como objetivo reconhecer o mérito de professores das redes públicas de ensino, pela contribuição dada para a melhoria da qualidade da educação básica. O concurso reúne experiências pedagógicas bem-sucedidas, criativas e inovadoras.
 
Nesta edição, serão contemplados os professores de todas as etapas da educação básica. Os trabalhos são divididos em duas categorias: temas livres e temas específicos. A primeira será separada apenas por período – educação infantil, anos iniciais do ensino fundamental, anos finais do ensino fundamental e ensino médio. A segunda categoria engloba os subtemas educação integral e integrada; ciências para anos iniciais; alfabetização nos anos iniciais do ensino fundamental; e educação digital articulada ao desenvolvimento do currículo.
Os autores das experiências selecionadas pela comissão julgadora, independentemente de sua região e da categoria a que concorrem, receberão o valor de R$ 6 mil, além de troféu e certificados expedidos pelas instituições promotoras do Prêmio. Já o vencedor de cada uma das oito subcategorias será conhecido na cerimônia de premiação do concurso e fará jus a um prêmio extra de R$5 mil.

As escolas nas quais foram desenvolvidas as experiências selecionadas serão premiadas com placa comemorativa fornecida pelos parceiros: Abrelivros, Fundação SM, Fundação Volkswagen e Instituto Votorantim.

WATCHMEN – TÍTULOS & FRASES DE ENCERRAMENTO

WATCHMEN – TÍTULOS & FRASES DE ENCERRAMENTO
         No final de cada edição, há uma frase de algum artista ou pensador, sempre coincidente à temática do capítulo (geralmente, é uma continuação do título). Segue abaixo os títulos e as frases de encerramento de todas as edições.  
    
1 – À MEIA-NOITE TODOS OS AGENTES… (“À Meia Noite todos os agentes e super-humanos saem e prendem qualquer um que saiba mais do que eles.” Bob Dylan)


2 – AMIGOS AUSENTES (“E eu estou desperto quando irrompe a aurora, embora meu coração padeça. Deveria estar brindando a amigos ausentes e não a estes comediantes.” Elvis Costello


3 – O JUIZ DE TODA A TERRA (“Não faria justiça o Juiz de toda a terra?” Genesis, capítulo 18, versículo 25)


4 – RELOJOEIRO (“A liberação do poder do átomo mudou tudo exceto nosso modo de pensar… A solução para este problema reside no coração da humanidade. Se eu soubesse disso, teria me tornado um relojoeiro” – Albert Einstein)


5 – TEMÍVEL SIMETRIA (“Tigre, Tigre, ardente açoite, / Nas florestas da noite / Que imortal olho ou guia / Pode captar-te a temível simetria?” W. Blake)


6 – O ABISMO TAMBÉM COMTEMPLA (“Não enfrentes monstros sob pena de te tornares um deles. Se contemplas o abismo, a ti o abismo também contempla.” – Friederic Nietzsche)


7 – IRMÃO DOS DRAGÕES (“Eu sou irmão dos dragões e companheiro das corujas. A pele que me recobre é negra e meus ossos estão calcinados pelo calor.” Jó, capítulo 30, versículo 29-30)

8 – VELHOS FANTASMAS (“No dia das bruxas, os velhos fantasmas vêm até nós. Para alguns, eles falam; para outros, são mudos.” Dia das Bruxas, Eleanor Farjeon)


9 – AS TREVAS DO MERO SER (“Até onde podemos discernir, o único propósito da existência humana é lançar uma luz nas trevas do mero ser.” C. G. Jung – Memórias, Sonhos e Reflexões)


10 – DOIS CAVALEIROS ESTAVAM SE APROXIMANDO… (“Lá fora a distância um gato selvagem rosnou, dois cavaleiros estavam se aproximando. O vento começou a uivar.” – Bob Dylan)


11 – CONTEMPLAI MINHAS REALIZAÇÕES, Ó PODEROSOS… (“Meu nome é Ozymandias, rei dos reis: contemplai minhas realizações, ó poderosos, e desesperai-vos!” Ozymandias – Percy Bysshe Shelley)

12 – UM MUNDO FORTE E ADORÁVEL (“Seria um mundo mais forte, um mundo forte e adorável onde morrer.” John Cake)

Watchmen – Gibi com Teor Literário (3ª Parte)

Watchmen – Gibi com Teor Literário (3ª Parte – AVISO: Contém revelações do enredo)

(Continuando...) por Cantos da Subversão


Por fim, há o segundo personagem mais poderoso da série: Adrian Veidt, que com sua absurda capacidade mental, consegue realizar ações sobre-humanas (como desviar de balas por calcular sua trajetória) e, até mesmo, controlar funções vitais. Em decorrência desse altíssimo intelecto, que lhe permitia assim coordenar melhor seus pensamentos, Adrian tornou-se um excelente acrobata, lutador, e estrategista. Anos antes da lei Keene ser aprovada, Ozymandias (o nome provém de um poema de Percy Bysshe Shelley) abandonou sua heróica vida (em termos) e revelou sua identidade publicamente. Aposentou-se. Depois, tornou-se um empresário multibilionário, que vive à custa de Ozymandias, vendendo a imagem sua e de seus vilões com brinquedos e outros tipos de merchandising, “se prostituindo” (como Rorschach, indiretamente, lhe jogou na cara isso, entre outras coisas – a típica sinceridade de Rorschach). Tornou-se um filantropo, realizando generosas doações a instituições de caridade e utilizando sua inteligência para instruir as pessoas a ter uma vida melhor. Até o final da série, pouco se sabe sobre este personagem, visto que ele muito pouco participa. É visto em flashbacks – como Ozymandias – em convenções de herois, quando é procurado por Rorschach, para ser alertado do assassino de mascarados, em programas de TV, e quando sofre uma tentativa de assassinato (no qual morre sua secretaria – no filme, morre uma cambada de executivos). como “estimação” um monstruoso lince com chifres, geneticamente mudado, que lhe serve como um guardião, ao qual ele deu o nome de Bubastis. Mas o que faria um super gênio virar um mero socialite… um popstar?


Para começo de conversa, a renúncia de Ozymandias não foi em vão: ele já previa que, mais cedo ou mais tarde, isso iria acontecer. Antecipando-se, ganharia a fama necessária para por em prática seu plano um tanto maquiavélico (bem “os fins justificam os meios”). Sua vida pública era, de fato, uma farsa, um embuste para perpetrar um crime demasiado terrível, que fez o Comediante desesperar-se, tanto pela gravidade do crime quanto pela necessidade que tinham de cometê-lo. “Qual é a graça? Onde está a graça? Eu não entendo. Alguém pode me explicar?”
Estando o mundo à beira de uma guerra mundial com armas nucleares (culminância nefasta da guerra fria), ameaça que fez muitos se suicidarem, Adrian sabia que o único jeito de impedir que tal destruição ocorresse era efetuando uma substituição de tragédias (matando milhões para salvar bilhões, nas palavras do mesmo). Então, ele mataria metade dos habitantes de Nova York, simultaneamente induzindo o mundo a acreditar que estava ocorrendo uma invasão alienígena. Pois, a devastação seria causada pela onda psíquica de um cefalópode horrífico e gigantesco (criada no laboratório de Adrian). Edward Blake conseguiu descobrir o plano de Adrian, e acabou sendo espancado e morto pelo mesmo. Coruja II e Rorschach descobrem o plano de Adrian ao procurá-lo em sua empresa, indo em seguida ao encontro dele na Antártida, onde o “vilão” possui uma fortaleza. Para os dois cavalheiros, penetrar no esconderijo do inimigo, visto que Ozymandias havia matado todos os seus funcionários vietnamitas (a quem ele deu abrigo em tempos de guerra), pois os mesmos poderiam desmanchar sua farsa. “Meu estômago de um nó e meus bagos enrugaram… é, ‘nervoso’ descreve bem. Sabe, deve ser assim, que as pessoas normais se sentem perto de nós…” (Coruja II, quando seguia ao encontro de Ozymandias)

            É possível que Ozymandias, sozinho, pudesse lidar com os quatro herois humanos que sobraram (Comediante, Rorschach, Coruja II e Espectral II) se estes os atacassem de uma vez só. Somente Manhattan o podia deter. Ciente disso, Rorschach tomou precauções para que o mundo soubesse da verdade caso ele não pudesse voltar para denunciá-la. Dan, aceita o fim de maneira, mais resignado. Quando, sorrateiramente (pois só assim teriam chance de vencê-lo), atacam Ozymandias (que já sabia da aproximação de ambos pelas suas câmeras de vigilância), este os derrota facilmente, como foi previsto pelos mesmos. Todavia, não os mata; trata-os com elegância, relatando-lhes todo o seu grandioso plano e até as suas drásticas influências (Alexandre, o Grande... gênios do mundo antigo – creio que há uma essência napoleônica no arbítrio de Adrian, pelo incomensurável extermínio que ele faria em troca da paz). Não podendo impedi-lo, aceitando a derrota, eles o acompanham escadaria abaixo, enquanto Adrian elucida seus feitos: como matou Blake, causou câncer em pessoas do convívio de Manhattan para exilá-lo (único modo de tirá-lo de seu caminho antes da conclusão do estratagema), emboscou Rorschach e tramou a tentativa de seu próprio assassinato. Quando Dan lhe pergunta quando ele pretendia por o plano em prática, calmamente ele responde: “Pretendia? Dan, eu não sou um vilão de seriado antigo. Acha mesmo que eu explicaria meu golpe de mestre se houvesse a menor chance de vocês afetarem seu desfecho? O processo foi iniciado 35 minutos atrás.” A próxima é a devastação de Nova York, onde, junto com milhões de cadáveres humanos jaz um gigantesco e horripilante cadáver de uma criatura desconhecida.

            Ao saber disse, Rorschach ira-se e enfrentaria Ozymandias se não fosse a presença de Bubastis (por isso, achei que o personagem sofreu decaimento – uma lince não impediria de lutar um homem irreprimível como ele). Mas, então, Dr. Manhattan, após visitar a Grande Maçã destruída, assoma na frente dos olhos atônitos de Adrian para um acerto de contas. Embora o Homem-Deus estivesse um pouco atordoado por causa das partículas de táquion (que o impediam de ver através das paredes), as chances do homem mais inteligente do mundo eram nulas, a não ser por uma alternativa apenas. Fugindo, ele atrai Manhattan para um corredor, usando, pesarosamente, Bubastis como isca, onde pode reproduzir o processo que obliterou Osterman anos antes, apagando da face da terra o homem-deus e o lince mutante. Ao que parecia, o Imortal havia sido derribado. 

“Apagou-se o imortal numa noite sem sonhos…”

            Após o único ser que poderia deter Adrian é dizimado, Espectral II ainda tenta matá-lo numa emboscada frustrada. Sendo os três heróis incapazes de detê-lo, Adrian lhes fala que eles apenas falharam em impedi-lo de salvar o mundo, o que põe a nu a desnecessidade da intervenção deles, embora Veidt ainda fosse tido como um déspota insano. O terrível é que ele falava a verdade… foi inútil tal tentativa. Eis então que Manhattan ressurge, gigantesco como um titã, quebrando a parede e quase conseguindo apanhar o heroi-vilão. Este, apressa-se em pegar um controle remoto no chão, enquanto Manhattan vai diminuindo de tamanho até alcançar a estatura humana, dizendo que estava decepcionado, muito decepcionado com Veidt por não ter previsto que se reestruturar-se depois da subtração do campo intrínseco foi o primeiro truque que ele aprendeu ao tornar-se um deus.

“Você realmente achou que me mataria?… Você é humano. O humano mais inteligente do mundo não significa mais para mim do que o cupim mais inteligente.” A categórica e clássica frase do Dr. Manhattan que dá continuação ao diálogo, bem elucida sua supremacia perante o maior dos homens (baita metáfora!). Porém…

 – “O que está em sua mão, Veidt? Outra arma avançada?”
 – “Sim. Pode-se dizer que sim… notícias de Nova York, imagens chegando…”

            Acionando, simultaneamente, todos os monitores com o controle, vários informativos anunciam que é o fim da guerra mundial, pois a nações devem unir-se para combater uma ameaça maior (e não tempo para tais jogos infantis e genocidas). Ouve-se um grito de exultação, urro de glória: “EU CONSEGUI!” Mesmo Manhattan, o ser supremo, insuperável, invencível, admite que o plano de Veidt foi impecável e que o melhor é deixar as coisas como estão; para o bem da humanidade, o vilão triunfou. Laurie não responde; está aturdida demais para isso. Dan, chocado, acaba por concordar. Kovacs se recusa, deixando o recinto enquanto proferi as palavras “Acordo Jamais. Nem mesmo diante do Armagedon!” Veidt, como bom anfitrião, oferece os aposentos de sua fortaleza a seus “convidados”, para que o aproveitassem a seu bel-prazer. Dan e Laurie vão a um recinto em separado, aproveitar a vida que tem antes que a mesma escape por entre seus dedos, fruindo de todas as boas sensações enquanto podem. Manhattan vai atrás de Rorschach.  
            Em minha opinião (e creio que seja a de todos os fãs, embora inspire certa indignação – mas este é justamente isso que torna esta cena tão poderosa), é o acontecimento mais forte de toda a série. Fora da fortaleza, em meio à neve que ali caia, Manhattan surge às costas de Rorschach, perguntando a este aonde ele estava indo. Walter então responde que iria voltar à nave-coruja e, depois, para a América, pois o mal deve ser punido e pessoas alertadas. Então, Manhattan diz-lhe que não pode permitir, o que faz Walter retirar a máscara dizendo: “Claro. Deve proteger a utopia de Veidt. Mais um cadáver entre suas fundações não faz diferença. Muito bem! O que está esperando? Manda ver.” Sem alternativa, numa simples extensão de sua vontade, o Homem-Deus desintegra o irredutível homem. Jamais render-se à força de um titã, enfrentar os deuses mesmo que isso resulte em sua destruição; isso é filosofia de peso. Nietzsche bem o sabe. Rorschach nunca se trairia por preço algum, mesmo que isso lhe significasse a morte. Logo, é ele quem ordena que Manhattan o destrua, sendo tal atitude sua glória na derrota e um apoteótico desenlace a um personagem fortíssimo.
            Depois, Manhattan retorna para o interior da fortaleza, encontrando Dan e Laurie dormindo nus e abraçados. Ele sorri ao vê-los. Depois, conversa com Veidt, que, apesar de sua extremada inteligência, inatingível, pergunta a Manhattan se havia agido corretamente. Veidt fez, em sua concepção, o que alguém tinha de fazer, obrigatoriamente; só não gostaria que precisasse ser ele o vigilante do mundo, e matar para salvar, embora, de certo modo, o ego lhe impelia, como impeliu Alexandre e tantos outros poderosos (“só eu posso fazê-lo… só eu devo fazê-lo”, como o Marco, personagem de Bétula, um romance meu). Isso é apontado no fim de sua entrevista (Apêndice da 11ª edição), quando o reporte pergunta como ele se sente em ser o homem mais inteligente do mundo: “Não, eu não ligo de ser o homem mais inteligente do mundo. Só gostaria que não fosse desse mundo.”
            E, agora, que te contei quase toda a trama numa resenha imbuída de minha opinião, que dizes? Quem é personagem principal? Apesar de ter preferências, não consigo apontar ninguém. Uma trama envolvente, de importâncias bem distribuídas, sem o nojento favoritismo a personagens medíocres que apenas causam náuseas.

Excedendo todo esse conteúdo, ainda existem outros personagens tão problemáticos e interessantes quanto, como a mãe de Laurie, o dono da banca de jornais e revistas, o garoto escorado no hidrante, lendo sempre o mesmo gibi, etc. Também há os apêndices no final de cada edição, que fala da história de cada personagem ou elemento da série (o livro de Hollis Mason, “Sob o Capuz”, a história dos “Contos do Cargueiro Negro”, estudos sobre Dr. Manhattan, a biografia de Walter Kovacs, entre outras coisas), que enriquecem o enredo. Há também o roteiro dentro do roteiro (o HQ lido pelo garoto no hidrante, “Contos do Cargueiro Negro” – “Tales of Black Freigther”). Como já existiam super herois, ficaram em voga as histórias de piratas. A que o garoto lê, impregnada de terror psicológico (como nos contos de Poe – nota-se a influência), relata um naufrágio um navio depois de ter sido atacado por um cargueiro de bandidos. O capitão foi o único sobrevivente. Temendo que os bandidos invadissem sua cidade e matassem sua família, ele inicia uma tentativa desesperada de retornar civilização sem ao menos saber se poderia salva-los. Com troncos de árvores e os cadáveres de sua tripulação, ele constrói uma jangada e se lança em alto-mar. Nessa terrível viagem, passa a alimentar-se de carne crua de gaivotas e de um tubarão. Quanto mais horrores enfrenta o naufrago, mais lhe sobrevêm. Com linguagem poética e altos teores de loucura e desesperança, Contos do Cargueiro Negro supera, em vários aspectos, muitos gibis verdadeiros. O final é singularmente trágico e arrebatador. Em verdade, a série Watchmen é um divisor de águas em seu e noutros gêneros. Decerto, é um livro, não uma graphic novel.

Watchmen – Gibi com Teor Literário (2ª Parte)

Watchmen – Gibi com Teor Literário (2ª Parte – AVISO: Contém revelações do enredo)

(Continuando...) por Cantos da Subversão
(Dr. Manhattan, Comediante, Espectral II, Ozymandias, Capitão Metrópoles, Coruja II e Rorschach –  Capitão Metrópoles, Nelson Nelly Garden, não é retratado aqui, pois morreu em 1974, num acidente de carro, e, portanto, não participa diretamente na história, tampouco, a meu ver, embora tivesse seus problemas como homem e heroi, é digno de nota.)

De todos os personagens da série, Dr. Manhattan é único dotado com poderes… todos os poderes imagináveis, compreendendo a onipotência, a onipresença e, de certa forma, a onisciência – Deus. Esse desnível extremo, de um Jeová azulado em meio a seres tão insignificantes (embora ainda eles sejam, a bem dizer, os mais fortes da Terra), forma um paradoxo genial: a fraqueza da onipotência. Jonathan Osterman, cientista nuclear, após ter seu corpo desintegrado, acidentalmente, numa experiência nuclear, volta como um ser supremo capaz de controlar a estrutura subatômica de todas as coisas, transportar-se a qualquer lugar do universo, resistir a qualquer atmosfera (até mesmo à atmosfera solar), ver o passado, o presente e o futuro, e reconstruir seu corpo ainda que o mesmo tenha sido desintegrado (outra vez). Em suma, é capaz de reconstruir a realidade a seu bel-prazer, um novo prolífico supremo. Mas, com esse infinito poder, ele distanciou-se da humanidade e de seus conceitos forjados, podendo ver e perceber coisas impossíveis para os seres humanos.

“Em caminhei pelo sol. Vi eventos tão mínimos e rápidos que mal pode se dizer que ocorreram.” – Dr. Manhattan

“Ver um mundo num grão de areia
 E um céu numa flor selvagem,
Segurar o infinito na palma de sua mão
E eternidade numa hora.” William Blake


“Se as portas da percepção estivessem purificadas, tudo surgiria para o homem tal como é, infinito.” W. Blake, de novo.

De fato, Dr. Manhattan é, em determinado aspecto, o personagem mais complexo da obra, pela ilimitude de suas capacidades (e de suas fraquezas). Com o gênio semelhante ao do Superman (e não tão peremptório e desabrido quanto o de Jeová, apesar de ser Manhattan possuidor de uma inocência similar à do criador bíblico quando ele tateava o Caos e forjava o universo, numa auto-descoberta), percebe-se que o forte dele não é o raciocínio prático, as obviedades da mente humana… nossa razão (por isso, utilizei o termo “simpatia autista”). Por certo, Jonathan morreu no acidente; o que lhe restou foi apenas uma força de criação – a contextualização da “razão” da natureza, insensível à dor e à morte, pois, para ela, isso são coisas que não existe.

“Um corpo vivo e um corpo morto contêm o mesmo número de partículas. Estruturalmente, não há diferença discernível.” – Dr. Manhattan

Assim é o juiz do mundo de Watchmen, completamente alheio à justiça e aos preceitos dos homens. Onipotente e impassível.

 
“Não faria justiça o Juiz de toda a terra?”

Porém, por seu alheamento à cultura humana (sua ignorância), pode ser manipulado pelo governo dos EUA e, assim, vencer para os americanos a guerra do Vietnã, entre outros feitos “grandiosos”. Um deus particular, enteado do Tio Sam (que nem é Jeová para os povos de Israel). Após um entrevista desastrosa, em que ele é questionado sobre haver, supostamente, causado câncer em pessoas com as quais conviveu (entre elas, sua ex-namorada Janey Slater), se exila em Marte, onde constrói uma imperial moradia.

Coruja II (Nite Owl) ou Daniel Dreiberg é um heroi à moda antiga, num mundo modernamente conturbado. Digamos que é um romântico em uma época onde não há romantismo. Extremamente inteligente (embora seja facilmente persuadido), tímido, arredio, explicitamente frustrado, beirando a depressão, de corpo um tanto flácido, Coruja II é um milionário que se vale da tecnologia para lutar contra o crime, usando equipamentos semelhantes aos de outros heróis (de outros universos), e uma nave em forma de coruja, nomeada de Archie (de Arquimedes, a coruja de Merlin). Ele, evidentemente, refugiava-se de sua própria vida no heroísmo. Com a chegada da lei Keene, à qual Dan prontamente acatou, foram-se os dias grandiosos. Durante certo tempo, Dan foi parceiro de Rorschach (o único amigo deste), o que é algo digno de nota devido à dessemelhança de personalidade existente entre ambos. Não há, visivelmente, motivos para que duas pessoas tão desiguais cultivem uma amizade. Claro que entra a questão do trabalho em comum, do coleguismo, mas isso não é motivo para uni-los, já que Espectral II, Ozymandias e quase todos os heróis não simpatizam com Rorschach, por considerá-lo louco.

– “Acomodado…? Escuta, eu estou cheio! Quem você pensa que é? Vive insultando as pessoas. Ninguém liga porque todos acham que você é maluco… será que faz ideia de como é difícil ser seu amigo?” – Coruja II, em um discussão com Rorschach.

Dan, sempre calmo, símbolo da honra, da sinceridade, da prudência racional e que muitos herois abjuraram, também se irrita quando é informado da morte do primeiro Coruja (Hollis Mason), seu amigo mais próximo e mentor, que foi assassinado por vândalos. Após Laurie ter terminado com Dr. Manhattan, inicia um romance com a mesma, o que lhe faz sentir “discreto” temor pelo Homem-Deus. Sobretudo, Dan é um amigo leal, o único que acreditou em Rorschach quanto à conspiração do matador de mascarados, não o vendo apenas como paranóico e lunático.


Laurie, ou Espectral II (Silk Espectre), por sua vez, é uma linda mulher, inocente, supérflua, rancorosa e traumatizada. Sempre odiou ser super heroína. Apenas se tornou vigilante para manter o legado da mãe, a primeira Espectral, que não aceita o fim de sua carreira e quer na filha a juventude que perdera (creio que isso Freud explica) Espectral II consegue roubar o amor do indiferente Homem-Deus de Janey Slater, que foi a namorada de Osterman antes e depois do acidente. Segundo Manhattan, ela era o único elo que o ligava à sua humanidade perdida (por isso, ele a incumbe de convencê-lo a salvar o mundo da Terceira Guerra Mundial que se anuncia, embora já soubesse que milhões morreriam – o inevitável). Posto que ela o abandonara (e sua falta de argumentação perante o Dr. Manhattan), por um detalhe, um complexo de Édipo às avessas, sem querer, Espectral II consegue persuadi-lo ao que se revela a identidade de seu verdadeiro pai: Edward Blake, quem ela tanto odiou. Como sua pôde transar com o homem que tentou estuprá-la anos antes, espancando-lhe sem piedade? Aliás, Blake era tão sujo que sempre se reportou à filha com uma lasciva ambiguidade, tocando-lhe o rosto e dizendo como havia se tornado bela… igual à sua mãe. Por causa desse infeliz paradoxo, Manhattan percebe o valor da vida... não o valor bestinha e clichê encontrado em livros de auto-ajuda, mas o da aleatoriedade da razão humana, do livre-arbítrio, de algo que foge a todo os padrões. Pois, se há vida ou não, ao universo é indiferente, contanto que não haja criação fora da criação. Ou seja, o que escapa aos padrões da natureza – igual à distorção da realidade que a arte faz. Era um deus enfim reconhecendo os minúsculos seres chamados humanos pelo que podiam apresentar de diferente num espetáculo cheio de falhas e reinvenções. Decidido a intervir na extinção da humanidade, o heroi supremo volta com Laurie a Terra (a conversa se passou em Marte, no palácio de Manhattan). Ao retornar ao seu planeta de origem, encontram uma Nova York devastada.  

Watchmen – Gibi com Teor Literário (1ª Parte)

Olá pessoas!
Aproveitando a 'deixa' sobre quadrinhos da última publicação aqui no QUIMILOKOS, e minha súbita mudança de cabelo [hahaha!], resolvi reproduzir um material disponibilizado pelo blog Cantos da Subversão, sobre WATCHMEN, demonstrando seu teor literário, mesmo em se tratando de um gibi; situação inusitada, uma vez que as pessoas normalmente não atribuem o devido valor às HQ's.
Eu, pessoalmente, sou apaixonada, e o material postado pelo dono do referido blog, denominado M.A.M.K., é de excelente qualidade! Então, não poderia deixar por menos!
No entanto, como é bastante extenso, está dividido em 4 partes, que estarão disponíveis aqui no QUIMILOKOS em 4 publicações, ok?!
Acompanhem comigo!
Hoje, a primeira parte!!
 
 
Watchmen – Gibi com Teor Literário (1ª Parte – AVISO: Contém revelações do enredo)
por Cantos da Subversão
"Quis custodiet ipsos custodies?"
"Who watches the watchmen?"
"Quem vigia os vigilantes?"

Histórias em Quadrinhos sempre despertaram certo preconceito em versados em literatura devido ao seu conteúdo pouco complexo. Admito que, quando adolescente, já cinéfilo, embora eu ainda estivesse longe da literatura, não simpatizava muitos com HQ – até ler O Reino o Amanhã (The Kingdon Come – 1996). Depois, li o A Piada Mortal (The Killing Joke – 1988), de Alan Moore. Fenomenal! E graças à indicação de um amigo, vi o filme Watchmen (2009), de Zack Snyder. O trabalho de Snyder ficou razoável (excetuando a péssima interpretação de Malin Akerman,  Espectral II), uma adaptação bem fiel ao enredo original, e fez-me conhecer outro estupendo trabalho de Moore, ilustrado por Dave Gibbons. Logicamente, fui atrás do HQ. Já sabia o que esperar por causa do filme; mas, claro, por tratar-se de uma série de 12 volumes, imaginava que apresentaria mais conteúdo. Justamente. Eis minha interpretação sobre essa obra singular:
A começar, não é mais um HQ onde o heroísmo impera; está mais para o fim de um carnaval, onde os mascarados vão para casa, não satisfeitos pela glória de terem sido herois, mas deprimidos pelo fim de seus dias úteis. Em Watchmen, a efusão do heroísmo já passou: o que vemos são apenas os resquícios, as cinzas de uma época magistral. Os poucos heróis restantes foram proibidos por lei – a exceção de dois (já falaremos deles) – e a sociedade os repudia feito criminosos, como se não precisasse deles, embora as cidades ainda fossem violentíssimas. É um trabalho que, apesar do pano de fundo fantástico, preza conceitos reais, pois seus personagens sofrem desilusões, cometem crimes e injustiças, sentem medo, desespero, transam… morrem. São pessoas sem poderes extraordinários, ainda que, por suas características psicológicas, éticas, forças e fraquezas, sejam fascinantes. O interessante da trama é, conquanto os personagens tenham semelhanças com outros personagens de histórias em quadrinho, o alheamento do universo de Watchmen em relação aos outros universos HQ. Ou seja, Superman e Batman existem na realidade de Watchmen do mesmo modo que existem na nossa – ficticiamente. Eles influenciaram os primeiros mascarados a combater o crime – mas não os podiam salvar, por sua inexistência. O terror em Watchmen, o mal que os vigilantes devem impedir é o mais terrível e realista possível: a ameaça da Terceira Guerra Mundial. O pano de fundo é a Guerra Fria. Por causa de uma greve dos policiais, havida em 1977, em razão dos mascarados “impertinentes”. Então, o povo se revoltou, protestou contra os vigilantes, e foi implantada a lei Keene, que proibia a intervenção de heróis na segurança pública.


 São seis os personagens principais de Watchmen: O Comediante (Edward Blake), Rorschach (Walter Covacs), Dr. Manhattan (Jonathan Osterman), Espectral II (Laurie Juspeczyk), Coruja II (Dan Dreiberg) e Ozymandias (Adrian Veidt). Todos eles – à exceção do Dr. Manhatam – não têm poderes. Valem-se de sua perícia em artes marciais, força olimpica, de certos tipos de armas e de seu raciocínio. A história começa com a notícia do assassinato de Edward Blake – foi espancado e arremessado pela janela de seu apartamento, e com a queda, segundo a descrição de Rorschach, sua cabeça foi parar no estômago – que tem maciça repercussão durante os dois primeiros volumes da série. Apesar de Blake, o Comediante, estar morto no tempo presente da história, aparece em muitos flashbacks. Indiferente à dor alheia, sádico, irascível, niilista, asqueroso como um bêbado, podre em vários sentidos, o Comediante foi um dos poucos que conseguiu distinguir, por si só, a face horrível da humanidade (a que a mesma tenta esconder) e procurou refúgio na negra ironia e sabia que todos os esforços dos herois mascarados para tornar o mundo um “lugar habitável” eram nulos, visto que não se pode mudar a natureza humana (nem o onipotente Manhattan, como o próprio admite no final do filme – aliás, ótimo acréscimo). No decorrer da trama se constata o que bons observadores já sabiam: Blake só é amoral porque esta é sua proteção contra o mundo – esta foi sua única saída para suportar tanto horror. Numa das cenas memoráveis do HQ, pouco antes de seu assassinato, ele visita Moloch, um super vilão doente e “aposentado”, para desabafar sobre algo que lhe soa nefasto e incompreensível – mais terrível do que seus crimes. Então, o cético, o sádico, em completa desesperança, pergunta ao vilão decrépito: “Qual é a graça? Onde está a graça? Eu não entendo. Alguém pode me explicar?” Desfecha a segunda edição de Watchmen, “Amigos Ausentes”, o qual retrata o enterro e detalhes da história do Comediante (além da influência que ele exerce sobre os demais), com Rorschach, sozinho em frente à tumba desse sardônico herói, contando uma piada que ele certa vez ouvira:


Um homem vai ao médico e diz que está deprimido. Diz que a vida parece dura e cruel. Conta que se sente só num mundo ameaçador onde o que se anuncia é vago e incerto. O médico então diz: “O tratamento é simples. O grande palhaço Pagliacci está na cidade. Assista ao espetáculo. Isso deve animá-lo.”
O homem, então, se desfaz em lágrimas. E diz: "Mas, doutor... Eu sou o Pagliacci…

Desde o inicio, é evidente a admiração, o respeito, de Rorschach pelo Comediante, por ele ter alcançado conclusões semelhantes às suas. Conclusões desesperadoras, às quais poucos conseguem, de certo modo, resistir. Sobreviver-lhes.
Rorschach, por sua vez, é um dos personagens mais estranhos de Watchmen. E um dos que mais merecem análise. Poderia ser taxado de misterioso também, se boa parte de sua história não houvesse sido revelada nos meados da série (e eu agradeço a Moore por ter tido a ideia de revelá-la, criando assim a melhor edição – minha opinião – de Watchmen: “O Abismo também Contempla”). Rorschach, inspirado no Questão, personagem da DC Comix, é o único que se mantém na ativa mesmo com Lei Keene (que proíbe a intervenção de mascarados no combate ao crime, exceto Dr. Manhattan e o Comediante), e por isso é perseguido pela polícia. Inconveniente, antissocial, demasiado cruel com os bandidos, portador de uma inextinguível revolta, ele tem certas semelhanças com o Comediante (daí o respeito), ainda que, diferente do anti-heroi assassinado em seu apartamento, Rorschach não fazia concessões (já que o comediante aliou-se ao governo). Tido por todos como louco, sendo que o único a prezá-lo como amigo era o Coruja II (Manhattan tratava-o com a mesma “simpatia autista” que tratava os demais), que, aliás, foi seu parceiro, durante certo tempo, antes da proibição. Característica desse atípico anti-heroi é a inconveniência, infiltrando-se em qualquer lugar sem ser notado. Porém, numa dessas, ele caiu numa armadilha e foi preso pelos policiais, encerrando a edição “Terrível Simetria” com a máscara dele sendo retirada (“Tyger! Tyger! Burning Bright / In the forests of night, / What immortal hand or eye / Could frame thy fearful simmetry?”). Na prisão, o psiquiatra humanista Malcolm Long assume o caso de Walter Kovacs, intentando reabilitá-lo. Mas não imaginava que Rorschach fosse um abismo tão imenso e obscuro. Não se pode chamar de duelo a relação entre eles, pois nunca foi um embate nivelado.


Walter Kovacs foi, literalmente, um filho da puta. Humilhado e maltratado constantemente pela mãe, Sylvia Kovacs, sem amparo familiar para suportar as agressões morais nas ruas, e acaba atacando dois garotos que implicavam com ele – cegando, parcialmente, um deles, com um cigarro. Depois disso, é levado a um reformatório, onde denota demonstrou grande desenvoltura física e intelectual. Depois de haver saído do reformatório, arruma um emprego numa loja de roupas. Ao saber do estupro e assassinato de uma jovem – Kitty Genovese – e enojado com descaso dos vizinhos que presenciaram a tudo sem tomar providência alguma, ele dá vida a Rorschach – sua versão altamente impiedosa. Quando não estava disfarçado de superherói, Walter passava boa parte do tempo nas ruas, empunhando uma placa com a incrição “The End is Nigh” (“O Fim está Próximo”), fazendo-se passar por “mendigo louco”, para assim observar melhor as ruas, sem causar o impacto que Rorschach causaria. Deste modo, até a sua “verdadeira” identidade era um disfarce, uma extensão de Rorschach (como será que ele se mantinha? Detalhe supérfluo quando a história é boa). Também, é digna de análise sua real aparência – feia, irrisória, mirrada (parece a versão adulta do Alfred E. Newman, da revista Mad). Além disso, é fedorento, como repetidas vezes é mencionado no HQ. Esses detalhes extirpam o estereótipo de heroi galã e robusto, até hoje tão louvado. É um rato de esgoto limpando a sujeira do mundo… não um anjo alado e sem face.     
Sempre num tom de voz impassível, Kovacs fala sobre seu alter ego incoercível. A consciência de Malcolm Long é esmagada pelo passado do anti-herói, que já presenciou coisas realmente terríveis. Aliás, o sociopata pôde definir de forma mais abrangente quem o analisava, com meia dúzia de palavras, do que os processos sistemáticos (e infantis) aplicados pelo especialista: gordo, rico, que nunca sofreu ou deparou-se com o sofrimento, desconhecedor da verdadeira natureza humana, protegido apenas por uma débil camada de ingenuidade. Ao romperem-se suas inermes defesas, ele é tragado por uma infinda inanidade. Perturbado, após ter desapontado seus familiares num jantar (quando descreveu o caso da menina que foi raptada, morta, esquartejada e dada de comer aos cães), senta-se solitário na cama, olhando os borrões de tinta que mostrou a Walter, em seu tratamento, tentando enxergar uma árvore frondosa com sombras estendo-se sobre o gramado, mas só lhe vinha a imagem de um gato morto que encontrara em frente, repleto de larvas gordas que o adentravam como se necessitassem fugir da luz. Mas, essa perspectiva ainda era uma espécie de eufemismo; pois a imagem não passava de um borrão de trevas, sem significância. Este era o verdadeiro horror… o vazio.
Passado esse momento, Rorschach, alvo constante dos prisioneiros, sobrevive à rebelião causada, indiretamente, por ele mesmo, ao causar a morte de um dos detentos ao jogar-lhe gordura fervente (este morreu no hospital, dias depois), já que todos desejavam matá-lo – grande parte dos detentos foi encarcerada por Rorschach. Nas ocasião, ele é resgatado por Coruja II  e Espectral II. Admito que ficou meio mal-contada essa parte, pois, uma pavorosa rebelião que se gerou por causa de Rorschach, apenas três homens (um gangster anão e seus dois capangas) vão ao seu encalço – talvez, isso deu por ele haver ficado na solitária, talvez, eu não tenha compreendido bem. “Não sou eu que estou presos com vocês, são vocês que estão presos comigo” – Walter Kovacs, após despejar gordura quente sobre o detento que o importunou na fila do almoço. Enfim, “Live Hard, Die Hard”. No final, em minha opinião, apesar de seu final apoteótico, o personagem sofre certo declínio (perde seu ímpeto irrefreável), mas nada que comprometa seu valor.