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Sobre fumaça tóxica em armazém catarinense - Quimicamente falando...

Força tarefa controla fumaça em armazém catarinense
 
Thais Leitão Repórter da Agência Brasil Brasília -
 
Divulgação - Thais Leitão - Da Agência Brasil - Brasília 
Foi controlada na manhã de hoje (27) a fumaça proveniente da queima de uma carga de nitrato de amônio armazenada em um galpão, em São Francisco do Sul (SC). Segundo a prefeitura municipal, a força tarefa integrada por Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e outros órgãos conseguiu alcançar o foco da reação química e inundar a área por volta das 6h30 de hoje. Durante a operação, foi usado aproximadamente 1,5 milhão de litros de água.
Neste momento, as equipes trabalham para fazer a limpeza do local. Representantes de órgãos ambientais, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), farão a avaliação das condições atmosféricas para definir quando a região será liberada para que moradores retornem às suas casas. Por enquanto, está mantida a área de isolamento em um raio de 1 quilômetro. De acordo com a prefeitura, 800 pessoas estão desalojadas e recebendo assistência em um abrigo disponibilizado pela Secretaria de Assistência Social. Está prevista para a manhã de hoje uma entrevista coletiva na sede da prefeitura de São Francisco do Sul para detalhar a operação.
O acidente ocorreu por volta das 22h de terça-feira (24), no galpão de uma fábrica de fertilizantes, no Bairro Paulas. A prefeitura decretou situação de emergência para acelerar as ações de assistência à população. Mais de 150 pessoas buscaram atendimento em unidades de saúde após terem inalado a fumaça, entre elas dois bombeiros militares que trabalhavam para controlar o foco da reação química. Um deles, David Marcelino, de 59 anos, teve intoxicação aguda e precisou ser transferido para o hospital regional de Joinville.
 
# Agora, quimicamente falando, alguns esclarecimentos, já que fui questionada em sala de aula:
 
O nitrato de amônio é um sal inorgânico, que quando puro é encontrado na cor branca e quando impuro nas colorações: cinza claro ou marrom, se estiver na forma de um cristal relativamente grande, aparenta-se com o sal grosso (NaCl). É inodoro, e, em solução aquosa, precipita-se misturando-se lentamente com a água, sua dissolução é bastante endotérmica.
Quando o nitrato de amônio é excitado com um fogareiro elétrico libera óxido nitroso (N2O), mais conhecido como gás hilariante ou gás do riso.
Pode ser produzido pela reação entre sulfato de amônio [(NH4)2SO4] e nitrato de cálcio [Ca(NO3)2], de acordo com a reação:
(NH4)2SO4 + Ca(NO3)2 → 2 NH4NO3+ CaSO4
Usado como fertilizantes, herbicidas , inseticidas, absorvente para óxidos de nitrogênio, fabricação de óxido nitroso, como oxidante em propelentes sólidos para foguetes, explosivos, etc.
O nitrato de amônio é obtido através da neutralização do ácido nítrico pela adição de hidróxido de amônio, ou ainda pode ser preparado com nitrato de sódio e hidróxido de amônio e ele também é usado na fabricação de Metanfetamina Cristal.
Perigos mais iminentes: Por ser oxidante, pode interagir com outros produtos. Quando contaminado com produtos orgânicos ou materiais oxidantes, aquecido, confinado, e ainda sob ação de agentes iniciadores, pode detonar. Risco de ignição ou detonação ao expor o produto ao calor e a materiais incompatíveis.
Perigos físicos e químicos: O Nitrato de Amônio é um forte oxidante. A contaminação pode promover a sua decomposição, tornando-o imprevisível e perigoso. Os contaminantes incluem matéria orgânica, Cloretos, Fluoretos e também alguns metais (exemplos: Cobre, Cromo, Zinco e outros).
Efeitos do produto em animais: A inalação pode causar irritação do trato respiratório, com tosse, dor de garganta e dificuldade respiratória. O contato com o produto pode causar irritação na pele e nos olhos. Exposto a altas temperaturas, devido à decomposição, pode liberar Amônia e gases Nitrosos tóxicos (NOx), capazes de provocar problemas respiratórios agudos.
Efeitos ambientais: É muito solúvel em água, podendo contaminar cursos d’água, tornando-os impróprios para uso em qualquer finalidade. O produto da combustão do Nitrato de amônia é o óxido nitroso, N2O. Este composto é um agravante do efeito estufa, sendo 273 vezes mais nocivo que o dióxido de carbono, CO2. (Xavier, A. Agronomia/UFSM, 2008)
Efeitos na saúde humana: O nitrato de amônio causa irritações nos olhos, na pele e no trato respiratório. A substância pode afetar o sangue, devido ao íon nitrato, causando uma doença chamada metahemoglobinemia, ou doença do bebê azul (IPCS ICHEM, 2011). Seus principais efeitos na saúde humana e dos ecossistemas são decorrentes dos compostos secundários que podem ser formados.

Fontes:
http://t.noticias.br.msn.com/brasil/for%c3%a7a-tarefa-controla-fuma%c3%a7a-em-armaz%c3%a9m-catarinense
http://pt.wikipedia.org/wiki/Nitrato_de_am%C3%B4nio

Ficamos entendidos?!
=D
Um mol de abraços a todos!!

 

7ºPRÊMIO PROFESSORES DO BRASIL



O Diário Oficial da União publicou a portaria que institui a 7ª edição do Prêmio Professores do Brasil. Educadores podem inscrever suas experiências pedagógicas até 30 de outubro, no site do concurso: http://premioprofessoresdobrasil.mec.gov.br/
O Prêmio Professores do Brasil é uma iniciativa do Ministério da Educação – MEC, promovido juntamente com as instituições parceiras. Tem como objetivo reconhecer o mérito de professores das redes públicas de ensino, pela contribuição dada para a melhoria da qualidade da educação básica. O concurso reúne experiências pedagógicas bem-sucedidas, criativas e inovadoras.
 
Nesta edição, serão contemplados os professores de todas as etapas da educação básica. Os trabalhos são divididos em duas categorias: temas livres e temas específicos. A primeira será separada apenas por período – educação infantil, anos iniciais do ensino fundamental, anos finais do ensino fundamental e ensino médio. A segunda categoria engloba os subtemas educação integral e integrada; ciências para anos iniciais; alfabetização nos anos iniciais do ensino fundamental; e educação digital articulada ao desenvolvimento do currículo.
Os autores das experiências selecionadas pela comissão julgadora, independentemente de sua região e da categoria a que concorrem, receberão o valor de R$ 6 mil, além de troféu e certificados expedidos pelas instituições promotoras do Prêmio. Já o vencedor de cada uma das oito subcategorias será conhecido na cerimônia de premiação do concurso e fará jus a um prêmio extra de R$5 mil.

As escolas nas quais foram desenvolvidas as experiências selecionadas serão premiadas com placa comemorativa fornecida pelos parceiros: Abrelivros, Fundação SM, Fundação Volkswagen e Instituto Votorantim.

WATCHMEN – TÍTULOS & FRASES DE ENCERRAMENTO

WATCHMEN – TÍTULOS & FRASES DE ENCERRAMENTO
         No final de cada edição, há uma frase de algum artista ou pensador, sempre coincidente à temática do capítulo (geralmente, é uma continuação do título). Segue abaixo os títulos e as frases de encerramento de todas as edições.  
    
1 – À MEIA-NOITE TODOS OS AGENTES… (“À Meia Noite todos os agentes e super-humanos saem e prendem qualquer um que saiba mais do que eles.” Bob Dylan)


2 – AMIGOS AUSENTES (“E eu estou desperto quando irrompe a aurora, embora meu coração padeça. Deveria estar brindando a amigos ausentes e não a estes comediantes.” Elvis Costello


3 – O JUIZ DE TODA A TERRA (“Não faria justiça o Juiz de toda a terra?” Genesis, capítulo 18, versículo 25)


4 – RELOJOEIRO (“A liberação do poder do átomo mudou tudo exceto nosso modo de pensar… A solução para este problema reside no coração da humanidade. Se eu soubesse disso, teria me tornado um relojoeiro” – Albert Einstein)


5 – TEMÍVEL SIMETRIA (“Tigre, Tigre, ardente açoite, / Nas florestas da noite / Que imortal olho ou guia / Pode captar-te a temível simetria?” W. Blake)


6 – O ABISMO TAMBÉM COMTEMPLA (“Não enfrentes monstros sob pena de te tornares um deles. Se contemplas o abismo, a ti o abismo também contempla.” – Friederic Nietzsche)


7 – IRMÃO DOS DRAGÕES (“Eu sou irmão dos dragões e companheiro das corujas. A pele que me recobre é negra e meus ossos estão calcinados pelo calor.” Jó, capítulo 30, versículo 29-30)

8 – VELHOS FANTASMAS (“No dia das bruxas, os velhos fantasmas vêm até nós. Para alguns, eles falam; para outros, são mudos.” Dia das Bruxas, Eleanor Farjeon)


9 – AS TREVAS DO MERO SER (“Até onde podemos discernir, o único propósito da existência humana é lançar uma luz nas trevas do mero ser.” C. G. Jung – Memórias, Sonhos e Reflexões)


10 – DOIS CAVALEIROS ESTAVAM SE APROXIMANDO… (“Lá fora a distância um gato selvagem rosnou, dois cavaleiros estavam se aproximando. O vento começou a uivar.” – Bob Dylan)


11 – CONTEMPLAI MINHAS REALIZAÇÕES, Ó PODEROSOS… (“Meu nome é Ozymandias, rei dos reis: contemplai minhas realizações, ó poderosos, e desesperai-vos!” Ozymandias – Percy Bysshe Shelley)

12 – UM MUNDO FORTE E ADORÁVEL (“Seria um mundo mais forte, um mundo forte e adorável onde morrer.” John Cake)

Watchmen – Gibi com Teor Literário (3ª Parte)

Watchmen – Gibi com Teor Literário (3ª Parte – AVISO: Contém revelações do enredo)

(Continuando...) por Cantos da Subversão


Por fim, há o segundo personagem mais poderoso da série: Adrian Veidt, que com sua absurda capacidade mental, consegue realizar ações sobre-humanas (como desviar de balas por calcular sua trajetória) e, até mesmo, controlar funções vitais. Em decorrência desse altíssimo intelecto, que lhe permitia assim coordenar melhor seus pensamentos, Adrian tornou-se um excelente acrobata, lutador, e estrategista. Anos antes da lei Keene ser aprovada, Ozymandias (o nome provém de um poema de Percy Bysshe Shelley) abandonou sua heróica vida (em termos) e revelou sua identidade publicamente. Aposentou-se. Depois, tornou-se um empresário multibilionário, que vive à custa de Ozymandias, vendendo a imagem sua e de seus vilões com brinquedos e outros tipos de merchandising, “se prostituindo” (como Rorschach, indiretamente, lhe jogou na cara isso, entre outras coisas – a típica sinceridade de Rorschach). Tornou-se um filantropo, realizando generosas doações a instituições de caridade e utilizando sua inteligência para instruir as pessoas a ter uma vida melhor. Até o final da série, pouco se sabe sobre este personagem, visto que ele muito pouco participa. É visto em flashbacks – como Ozymandias – em convenções de herois, quando é procurado por Rorschach, para ser alertado do assassino de mascarados, em programas de TV, e quando sofre uma tentativa de assassinato (no qual morre sua secretaria – no filme, morre uma cambada de executivos). como “estimação” um monstruoso lince com chifres, geneticamente mudado, que lhe serve como um guardião, ao qual ele deu o nome de Bubastis. Mas o que faria um super gênio virar um mero socialite… um popstar?


Para começo de conversa, a renúncia de Ozymandias não foi em vão: ele já previa que, mais cedo ou mais tarde, isso iria acontecer. Antecipando-se, ganharia a fama necessária para por em prática seu plano um tanto maquiavélico (bem “os fins justificam os meios”). Sua vida pública era, de fato, uma farsa, um embuste para perpetrar um crime demasiado terrível, que fez o Comediante desesperar-se, tanto pela gravidade do crime quanto pela necessidade que tinham de cometê-lo. “Qual é a graça? Onde está a graça? Eu não entendo. Alguém pode me explicar?”
Estando o mundo à beira de uma guerra mundial com armas nucleares (culminância nefasta da guerra fria), ameaça que fez muitos se suicidarem, Adrian sabia que o único jeito de impedir que tal destruição ocorresse era efetuando uma substituição de tragédias (matando milhões para salvar bilhões, nas palavras do mesmo). Então, ele mataria metade dos habitantes de Nova York, simultaneamente induzindo o mundo a acreditar que estava ocorrendo uma invasão alienígena. Pois, a devastação seria causada pela onda psíquica de um cefalópode horrífico e gigantesco (criada no laboratório de Adrian). Edward Blake conseguiu descobrir o plano de Adrian, e acabou sendo espancado e morto pelo mesmo. Coruja II e Rorschach descobrem o plano de Adrian ao procurá-lo em sua empresa, indo em seguida ao encontro dele na Antártida, onde o “vilão” possui uma fortaleza. Para os dois cavalheiros, penetrar no esconderijo do inimigo, visto que Ozymandias havia matado todos os seus funcionários vietnamitas (a quem ele deu abrigo em tempos de guerra), pois os mesmos poderiam desmanchar sua farsa. “Meu estômago de um nó e meus bagos enrugaram… é, ‘nervoso’ descreve bem. Sabe, deve ser assim, que as pessoas normais se sentem perto de nós…” (Coruja II, quando seguia ao encontro de Ozymandias)

            É possível que Ozymandias, sozinho, pudesse lidar com os quatro herois humanos que sobraram (Comediante, Rorschach, Coruja II e Espectral II) se estes os atacassem de uma vez só. Somente Manhattan o podia deter. Ciente disso, Rorschach tomou precauções para que o mundo soubesse da verdade caso ele não pudesse voltar para denunciá-la. Dan, aceita o fim de maneira, mais resignado. Quando, sorrateiramente (pois só assim teriam chance de vencê-lo), atacam Ozymandias (que já sabia da aproximação de ambos pelas suas câmeras de vigilância), este os derrota facilmente, como foi previsto pelos mesmos. Todavia, não os mata; trata-os com elegância, relatando-lhes todo o seu grandioso plano e até as suas drásticas influências (Alexandre, o Grande... gênios do mundo antigo – creio que há uma essência napoleônica no arbítrio de Adrian, pelo incomensurável extermínio que ele faria em troca da paz). Não podendo impedi-lo, aceitando a derrota, eles o acompanham escadaria abaixo, enquanto Adrian elucida seus feitos: como matou Blake, causou câncer em pessoas do convívio de Manhattan para exilá-lo (único modo de tirá-lo de seu caminho antes da conclusão do estratagema), emboscou Rorschach e tramou a tentativa de seu próprio assassinato. Quando Dan lhe pergunta quando ele pretendia por o plano em prática, calmamente ele responde: “Pretendia? Dan, eu não sou um vilão de seriado antigo. Acha mesmo que eu explicaria meu golpe de mestre se houvesse a menor chance de vocês afetarem seu desfecho? O processo foi iniciado 35 minutos atrás.” A próxima é a devastação de Nova York, onde, junto com milhões de cadáveres humanos jaz um gigantesco e horripilante cadáver de uma criatura desconhecida.

            Ao saber disse, Rorschach ira-se e enfrentaria Ozymandias se não fosse a presença de Bubastis (por isso, achei que o personagem sofreu decaimento – uma lince não impediria de lutar um homem irreprimível como ele). Mas, então, Dr. Manhattan, após visitar a Grande Maçã destruída, assoma na frente dos olhos atônitos de Adrian para um acerto de contas. Embora o Homem-Deus estivesse um pouco atordoado por causa das partículas de táquion (que o impediam de ver através das paredes), as chances do homem mais inteligente do mundo eram nulas, a não ser por uma alternativa apenas. Fugindo, ele atrai Manhattan para um corredor, usando, pesarosamente, Bubastis como isca, onde pode reproduzir o processo que obliterou Osterman anos antes, apagando da face da terra o homem-deus e o lince mutante. Ao que parecia, o Imortal havia sido derribado. 

“Apagou-se o imortal numa noite sem sonhos…”

            Após o único ser que poderia deter Adrian é dizimado, Espectral II ainda tenta matá-lo numa emboscada frustrada. Sendo os três heróis incapazes de detê-lo, Adrian lhes fala que eles apenas falharam em impedi-lo de salvar o mundo, o que põe a nu a desnecessidade da intervenção deles, embora Veidt ainda fosse tido como um déspota insano. O terrível é que ele falava a verdade… foi inútil tal tentativa. Eis então que Manhattan ressurge, gigantesco como um titã, quebrando a parede e quase conseguindo apanhar o heroi-vilão. Este, apressa-se em pegar um controle remoto no chão, enquanto Manhattan vai diminuindo de tamanho até alcançar a estatura humana, dizendo que estava decepcionado, muito decepcionado com Veidt por não ter previsto que se reestruturar-se depois da subtração do campo intrínseco foi o primeiro truque que ele aprendeu ao tornar-se um deus.

“Você realmente achou que me mataria?… Você é humano. O humano mais inteligente do mundo não significa mais para mim do que o cupim mais inteligente.” A categórica e clássica frase do Dr. Manhattan que dá continuação ao diálogo, bem elucida sua supremacia perante o maior dos homens (baita metáfora!). Porém…

 – “O que está em sua mão, Veidt? Outra arma avançada?”
 – “Sim. Pode-se dizer que sim… notícias de Nova York, imagens chegando…”

            Acionando, simultaneamente, todos os monitores com o controle, vários informativos anunciam que é o fim da guerra mundial, pois a nações devem unir-se para combater uma ameaça maior (e não tempo para tais jogos infantis e genocidas). Ouve-se um grito de exultação, urro de glória: “EU CONSEGUI!” Mesmo Manhattan, o ser supremo, insuperável, invencível, admite que o plano de Veidt foi impecável e que o melhor é deixar as coisas como estão; para o bem da humanidade, o vilão triunfou. Laurie não responde; está aturdida demais para isso. Dan, chocado, acaba por concordar. Kovacs se recusa, deixando o recinto enquanto proferi as palavras “Acordo Jamais. Nem mesmo diante do Armagedon!” Veidt, como bom anfitrião, oferece os aposentos de sua fortaleza a seus “convidados”, para que o aproveitassem a seu bel-prazer. Dan e Laurie vão a um recinto em separado, aproveitar a vida que tem antes que a mesma escape por entre seus dedos, fruindo de todas as boas sensações enquanto podem. Manhattan vai atrás de Rorschach.  
            Em minha opinião (e creio que seja a de todos os fãs, embora inspire certa indignação – mas este é justamente isso que torna esta cena tão poderosa), é o acontecimento mais forte de toda a série. Fora da fortaleza, em meio à neve que ali caia, Manhattan surge às costas de Rorschach, perguntando a este aonde ele estava indo. Walter então responde que iria voltar à nave-coruja e, depois, para a América, pois o mal deve ser punido e pessoas alertadas. Então, Manhattan diz-lhe que não pode permitir, o que faz Walter retirar a máscara dizendo: “Claro. Deve proteger a utopia de Veidt. Mais um cadáver entre suas fundações não faz diferença. Muito bem! O que está esperando? Manda ver.” Sem alternativa, numa simples extensão de sua vontade, o Homem-Deus desintegra o irredutível homem. Jamais render-se à força de um titã, enfrentar os deuses mesmo que isso resulte em sua destruição; isso é filosofia de peso. Nietzsche bem o sabe. Rorschach nunca se trairia por preço algum, mesmo que isso lhe significasse a morte. Logo, é ele quem ordena que Manhattan o destrua, sendo tal atitude sua glória na derrota e um apoteótico desenlace a um personagem fortíssimo.
            Depois, Manhattan retorna para o interior da fortaleza, encontrando Dan e Laurie dormindo nus e abraçados. Ele sorri ao vê-los. Depois, conversa com Veidt, que, apesar de sua extremada inteligência, inatingível, pergunta a Manhattan se havia agido corretamente. Veidt fez, em sua concepção, o que alguém tinha de fazer, obrigatoriamente; só não gostaria que precisasse ser ele o vigilante do mundo, e matar para salvar, embora, de certo modo, o ego lhe impelia, como impeliu Alexandre e tantos outros poderosos (“só eu posso fazê-lo… só eu devo fazê-lo”, como o Marco, personagem de Bétula, um romance meu). Isso é apontado no fim de sua entrevista (Apêndice da 11ª edição), quando o reporte pergunta como ele se sente em ser o homem mais inteligente do mundo: “Não, eu não ligo de ser o homem mais inteligente do mundo. Só gostaria que não fosse desse mundo.”
            E, agora, que te contei quase toda a trama numa resenha imbuída de minha opinião, que dizes? Quem é personagem principal? Apesar de ter preferências, não consigo apontar ninguém. Uma trama envolvente, de importâncias bem distribuídas, sem o nojento favoritismo a personagens medíocres que apenas causam náuseas.

Excedendo todo esse conteúdo, ainda existem outros personagens tão problemáticos e interessantes quanto, como a mãe de Laurie, o dono da banca de jornais e revistas, o garoto escorado no hidrante, lendo sempre o mesmo gibi, etc. Também há os apêndices no final de cada edição, que fala da história de cada personagem ou elemento da série (o livro de Hollis Mason, “Sob o Capuz”, a história dos “Contos do Cargueiro Negro”, estudos sobre Dr. Manhattan, a biografia de Walter Kovacs, entre outras coisas), que enriquecem o enredo. Há também o roteiro dentro do roteiro (o HQ lido pelo garoto no hidrante, “Contos do Cargueiro Negro” – “Tales of Black Freigther”). Como já existiam super herois, ficaram em voga as histórias de piratas. A que o garoto lê, impregnada de terror psicológico (como nos contos de Poe – nota-se a influência), relata um naufrágio um navio depois de ter sido atacado por um cargueiro de bandidos. O capitão foi o único sobrevivente. Temendo que os bandidos invadissem sua cidade e matassem sua família, ele inicia uma tentativa desesperada de retornar civilização sem ao menos saber se poderia salva-los. Com troncos de árvores e os cadáveres de sua tripulação, ele constrói uma jangada e se lança em alto-mar. Nessa terrível viagem, passa a alimentar-se de carne crua de gaivotas e de um tubarão. Quanto mais horrores enfrenta o naufrago, mais lhe sobrevêm. Com linguagem poética e altos teores de loucura e desesperança, Contos do Cargueiro Negro supera, em vários aspectos, muitos gibis verdadeiros. O final é singularmente trágico e arrebatador. Em verdade, a série Watchmen é um divisor de águas em seu e noutros gêneros. Decerto, é um livro, não uma graphic novel.

Watchmen – Gibi com Teor Literário (2ª Parte)

Watchmen – Gibi com Teor Literário (2ª Parte – AVISO: Contém revelações do enredo)

(Continuando...) por Cantos da Subversão
(Dr. Manhattan, Comediante, Espectral II, Ozymandias, Capitão Metrópoles, Coruja II e Rorschach –  Capitão Metrópoles, Nelson Nelly Garden, não é retratado aqui, pois morreu em 1974, num acidente de carro, e, portanto, não participa diretamente na história, tampouco, a meu ver, embora tivesse seus problemas como homem e heroi, é digno de nota.)

De todos os personagens da série, Dr. Manhattan é único dotado com poderes… todos os poderes imagináveis, compreendendo a onipotência, a onipresença e, de certa forma, a onisciência – Deus. Esse desnível extremo, de um Jeová azulado em meio a seres tão insignificantes (embora ainda eles sejam, a bem dizer, os mais fortes da Terra), forma um paradoxo genial: a fraqueza da onipotência. Jonathan Osterman, cientista nuclear, após ter seu corpo desintegrado, acidentalmente, numa experiência nuclear, volta como um ser supremo capaz de controlar a estrutura subatômica de todas as coisas, transportar-se a qualquer lugar do universo, resistir a qualquer atmosfera (até mesmo à atmosfera solar), ver o passado, o presente e o futuro, e reconstruir seu corpo ainda que o mesmo tenha sido desintegrado (outra vez). Em suma, é capaz de reconstruir a realidade a seu bel-prazer, um novo prolífico supremo. Mas, com esse infinito poder, ele distanciou-se da humanidade e de seus conceitos forjados, podendo ver e perceber coisas impossíveis para os seres humanos.

“Em caminhei pelo sol. Vi eventos tão mínimos e rápidos que mal pode se dizer que ocorreram.” – Dr. Manhattan

“Ver um mundo num grão de areia
 E um céu numa flor selvagem,
Segurar o infinito na palma de sua mão
E eternidade numa hora.” William Blake


“Se as portas da percepção estivessem purificadas, tudo surgiria para o homem tal como é, infinito.” W. Blake, de novo.

De fato, Dr. Manhattan é, em determinado aspecto, o personagem mais complexo da obra, pela ilimitude de suas capacidades (e de suas fraquezas). Com o gênio semelhante ao do Superman (e não tão peremptório e desabrido quanto o de Jeová, apesar de ser Manhattan possuidor de uma inocência similar à do criador bíblico quando ele tateava o Caos e forjava o universo, numa auto-descoberta), percebe-se que o forte dele não é o raciocínio prático, as obviedades da mente humana… nossa razão (por isso, utilizei o termo “simpatia autista”). Por certo, Jonathan morreu no acidente; o que lhe restou foi apenas uma força de criação – a contextualização da “razão” da natureza, insensível à dor e à morte, pois, para ela, isso são coisas que não existe.

“Um corpo vivo e um corpo morto contêm o mesmo número de partículas. Estruturalmente, não há diferença discernível.” – Dr. Manhattan

Assim é o juiz do mundo de Watchmen, completamente alheio à justiça e aos preceitos dos homens. Onipotente e impassível.

 
“Não faria justiça o Juiz de toda a terra?”

Porém, por seu alheamento à cultura humana (sua ignorância), pode ser manipulado pelo governo dos EUA e, assim, vencer para os americanos a guerra do Vietnã, entre outros feitos “grandiosos”. Um deus particular, enteado do Tio Sam (que nem é Jeová para os povos de Israel). Após um entrevista desastrosa, em que ele é questionado sobre haver, supostamente, causado câncer em pessoas com as quais conviveu (entre elas, sua ex-namorada Janey Slater), se exila em Marte, onde constrói uma imperial moradia.

Coruja II (Nite Owl) ou Daniel Dreiberg é um heroi à moda antiga, num mundo modernamente conturbado. Digamos que é um romântico em uma época onde não há romantismo. Extremamente inteligente (embora seja facilmente persuadido), tímido, arredio, explicitamente frustrado, beirando a depressão, de corpo um tanto flácido, Coruja II é um milionário que se vale da tecnologia para lutar contra o crime, usando equipamentos semelhantes aos de outros heróis (de outros universos), e uma nave em forma de coruja, nomeada de Archie (de Arquimedes, a coruja de Merlin). Ele, evidentemente, refugiava-se de sua própria vida no heroísmo. Com a chegada da lei Keene, à qual Dan prontamente acatou, foram-se os dias grandiosos. Durante certo tempo, Dan foi parceiro de Rorschach (o único amigo deste), o que é algo digno de nota devido à dessemelhança de personalidade existente entre ambos. Não há, visivelmente, motivos para que duas pessoas tão desiguais cultivem uma amizade. Claro que entra a questão do trabalho em comum, do coleguismo, mas isso não é motivo para uni-los, já que Espectral II, Ozymandias e quase todos os heróis não simpatizam com Rorschach, por considerá-lo louco.

– “Acomodado…? Escuta, eu estou cheio! Quem você pensa que é? Vive insultando as pessoas. Ninguém liga porque todos acham que você é maluco… será que faz ideia de como é difícil ser seu amigo?” – Coruja II, em um discussão com Rorschach.

Dan, sempre calmo, símbolo da honra, da sinceridade, da prudência racional e que muitos herois abjuraram, também se irrita quando é informado da morte do primeiro Coruja (Hollis Mason), seu amigo mais próximo e mentor, que foi assassinado por vândalos. Após Laurie ter terminado com Dr. Manhattan, inicia um romance com a mesma, o que lhe faz sentir “discreto” temor pelo Homem-Deus. Sobretudo, Dan é um amigo leal, o único que acreditou em Rorschach quanto à conspiração do matador de mascarados, não o vendo apenas como paranóico e lunático.


Laurie, ou Espectral II (Silk Espectre), por sua vez, é uma linda mulher, inocente, supérflua, rancorosa e traumatizada. Sempre odiou ser super heroína. Apenas se tornou vigilante para manter o legado da mãe, a primeira Espectral, que não aceita o fim de sua carreira e quer na filha a juventude que perdera (creio que isso Freud explica) Espectral II consegue roubar o amor do indiferente Homem-Deus de Janey Slater, que foi a namorada de Osterman antes e depois do acidente. Segundo Manhattan, ela era o único elo que o ligava à sua humanidade perdida (por isso, ele a incumbe de convencê-lo a salvar o mundo da Terceira Guerra Mundial que se anuncia, embora já soubesse que milhões morreriam – o inevitável). Posto que ela o abandonara (e sua falta de argumentação perante o Dr. Manhattan), por um detalhe, um complexo de Édipo às avessas, sem querer, Espectral II consegue persuadi-lo ao que se revela a identidade de seu verdadeiro pai: Edward Blake, quem ela tanto odiou. Como sua pôde transar com o homem que tentou estuprá-la anos antes, espancando-lhe sem piedade? Aliás, Blake era tão sujo que sempre se reportou à filha com uma lasciva ambiguidade, tocando-lhe o rosto e dizendo como havia se tornado bela… igual à sua mãe. Por causa desse infeliz paradoxo, Manhattan percebe o valor da vida... não o valor bestinha e clichê encontrado em livros de auto-ajuda, mas o da aleatoriedade da razão humana, do livre-arbítrio, de algo que foge a todo os padrões. Pois, se há vida ou não, ao universo é indiferente, contanto que não haja criação fora da criação. Ou seja, o que escapa aos padrões da natureza – igual à distorção da realidade que a arte faz. Era um deus enfim reconhecendo os minúsculos seres chamados humanos pelo que podiam apresentar de diferente num espetáculo cheio de falhas e reinvenções. Decidido a intervir na extinção da humanidade, o heroi supremo volta com Laurie a Terra (a conversa se passou em Marte, no palácio de Manhattan). Ao retornar ao seu planeta de origem, encontram uma Nova York devastada.