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Watchmen – Gibi com Teor Literário (2ª Parte)

Watchmen – Gibi com Teor Literário (2ª Parte – AVISO: Contém revelações do enredo)

(Continuando...) por Cantos da Subversão
(Dr. Manhattan, Comediante, Espectral II, Ozymandias, Capitão Metrópoles, Coruja II e Rorschach –  Capitão Metrópoles, Nelson Nelly Garden, não é retratado aqui, pois morreu em 1974, num acidente de carro, e, portanto, não participa diretamente na história, tampouco, a meu ver, embora tivesse seus problemas como homem e heroi, é digno de nota.)

De todos os personagens da série, Dr. Manhattan é único dotado com poderes… todos os poderes imagináveis, compreendendo a onipotência, a onipresença e, de certa forma, a onisciência – Deus. Esse desnível extremo, de um Jeová azulado em meio a seres tão insignificantes (embora ainda eles sejam, a bem dizer, os mais fortes da Terra), forma um paradoxo genial: a fraqueza da onipotência. Jonathan Osterman, cientista nuclear, após ter seu corpo desintegrado, acidentalmente, numa experiência nuclear, volta como um ser supremo capaz de controlar a estrutura subatômica de todas as coisas, transportar-se a qualquer lugar do universo, resistir a qualquer atmosfera (até mesmo à atmosfera solar), ver o passado, o presente e o futuro, e reconstruir seu corpo ainda que o mesmo tenha sido desintegrado (outra vez). Em suma, é capaz de reconstruir a realidade a seu bel-prazer, um novo prolífico supremo. Mas, com esse infinito poder, ele distanciou-se da humanidade e de seus conceitos forjados, podendo ver e perceber coisas impossíveis para os seres humanos.

“Em caminhei pelo sol. Vi eventos tão mínimos e rápidos que mal pode se dizer que ocorreram.” – Dr. Manhattan

“Ver um mundo num grão de areia
 E um céu numa flor selvagem,
Segurar o infinito na palma de sua mão
E eternidade numa hora.” William Blake


“Se as portas da percepção estivessem purificadas, tudo surgiria para o homem tal como é, infinito.” W. Blake, de novo.

De fato, Dr. Manhattan é, em determinado aspecto, o personagem mais complexo da obra, pela ilimitude de suas capacidades (e de suas fraquezas). Com o gênio semelhante ao do Superman (e não tão peremptório e desabrido quanto o de Jeová, apesar de ser Manhattan possuidor de uma inocência similar à do criador bíblico quando ele tateava o Caos e forjava o universo, numa auto-descoberta), percebe-se que o forte dele não é o raciocínio prático, as obviedades da mente humana… nossa razão (por isso, utilizei o termo “simpatia autista”). Por certo, Jonathan morreu no acidente; o que lhe restou foi apenas uma força de criação – a contextualização da “razão” da natureza, insensível à dor e à morte, pois, para ela, isso são coisas que não existe.

“Um corpo vivo e um corpo morto contêm o mesmo número de partículas. Estruturalmente, não há diferença discernível.” – Dr. Manhattan

Assim é o juiz do mundo de Watchmen, completamente alheio à justiça e aos preceitos dos homens. Onipotente e impassível.

 
“Não faria justiça o Juiz de toda a terra?”

Porém, por seu alheamento à cultura humana (sua ignorância), pode ser manipulado pelo governo dos EUA e, assim, vencer para os americanos a guerra do Vietnã, entre outros feitos “grandiosos”. Um deus particular, enteado do Tio Sam (que nem é Jeová para os povos de Israel). Após um entrevista desastrosa, em que ele é questionado sobre haver, supostamente, causado câncer em pessoas com as quais conviveu (entre elas, sua ex-namorada Janey Slater), se exila em Marte, onde constrói uma imperial moradia.

Coruja II (Nite Owl) ou Daniel Dreiberg é um heroi à moda antiga, num mundo modernamente conturbado. Digamos que é um romântico em uma época onde não há romantismo. Extremamente inteligente (embora seja facilmente persuadido), tímido, arredio, explicitamente frustrado, beirando a depressão, de corpo um tanto flácido, Coruja II é um milionário que se vale da tecnologia para lutar contra o crime, usando equipamentos semelhantes aos de outros heróis (de outros universos), e uma nave em forma de coruja, nomeada de Archie (de Arquimedes, a coruja de Merlin). Ele, evidentemente, refugiava-se de sua própria vida no heroísmo. Com a chegada da lei Keene, à qual Dan prontamente acatou, foram-se os dias grandiosos. Durante certo tempo, Dan foi parceiro de Rorschach (o único amigo deste), o que é algo digno de nota devido à dessemelhança de personalidade existente entre ambos. Não há, visivelmente, motivos para que duas pessoas tão desiguais cultivem uma amizade. Claro que entra a questão do trabalho em comum, do coleguismo, mas isso não é motivo para uni-los, já que Espectral II, Ozymandias e quase todos os heróis não simpatizam com Rorschach, por considerá-lo louco.

– “Acomodado…? Escuta, eu estou cheio! Quem você pensa que é? Vive insultando as pessoas. Ninguém liga porque todos acham que você é maluco… será que faz ideia de como é difícil ser seu amigo?” – Coruja II, em um discussão com Rorschach.

Dan, sempre calmo, símbolo da honra, da sinceridade, da prudência racional e que muitos herois abjuraram, também se irrita quando é informado da morte do primeiro Coruja (Hollis Mason), seu amigo mais próximo e mentor, que foi assassinado por vândalos. Após Laurie ter terminado com Dr. Manhattan, inicia um romance com a mesma, o que lhe faz sentir “discreto” temor pelo Homem-Deus. Sobretudo, Dan é um amigo leal, o único que acreditou em Rorschach quanto à conspiração do matador de mascarados, não o vendo apenas como paranóico e lunático.


Laurie, ou Espectral II (Silk Espectre), por sua vez, é uma linda mulher, inocente, supérflua, rancorosa e traumatizada. Sempre odiou ser super heroína. Apenas se tornou vigilante para manter o legado da mãe, a primeira Espectral, que não aceita o fim de sua carreira e quer na filha a juventude que perdera (creio que isso Freud explica) Espectral II consegue roubar o amor do indiferente Homem-Deus de Janey Slater, que foi a namorada de Osterman antes e depois do acidente. Segundo Manhattan, ela era o único elo que o ligava à sua humanidade perdida (por isso, ele a incumbe de convencê-lo a salvar o mundo da Terceira Guerra Mundial que se anuncia, embora já soubesse que milhões morreriam – o inevitável). Posto que ela o abandonara (e sua falta de argumentação perante o Dr. Manhattan), por um detalhe, um complexo de Édipo às avessas, sem querer, Espectral II consegue persuadi-lo ao que se revela a identidade de seu verdadeiro pai: Edward Blake, quem ela tanto odiou. Como sua pôde transar com o homem que tentou estuprá-la anos antes, espancando-lhe sem piedade? Aliás, Blake era tão sujo que sempre se reportou à filha com uma lasciva ambiguidade, tocando-lhe o rosto e dizendo como havia se tornado bela… igual à sua mãe. Por causa desse infeliz paradoxo, Manhattan percebe o valor da vida... não o valor bestinha e clichê encontrado em livros de auto-ajuda, mas o da aleatoriedade da razão humana, do livre-arbítrio, de algo que foge a todo os padrões. Pois, se há vida ou não, ao universo é indiferente, contanto que não haja criação fora da criação. Ou seja, o que escapa aos padrões da natureza – igual à distorção da realidade que a arte faz. Era um deus enfim reconhecendo os minúsculos seres chamados humanos pelo que podiam apresentar de diferente num espetáculo cheio de falhas e reinvenções. Decidido a intervir na extinção da humanidade, o heroi supremo volta com Laurie a Terra (a conversa se passou em Marte, no palácio de Manhattan). Ao retornar ao seu planeta de origem, encontram uma Nova York devastada.  

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